segunda-feira, 29 de junho de 2015

Ninguém tem nada com isso








Ninguém tem nada com isso 



Crônica 02





Já bastavam de tantos ensaios, música japonesa e blues. Queria mesmo experimentar com a música, criar em grupo, ter uma banda. O sonho de qualquer jovem rebelde na década de 80...

Foi então que um amigo me falou de um cara da banca de jornal que estava precisando de um guitarrista, isso em 1986.

A essa altura, já tínhamos decorado as várias escalas musicais e praticado bastante as power chords do rock. Tínhamos de partir para a prática!

Ensaiei várias idas à tal banca que ficava em frente ao supermercado Roncetti, na Expedito Garcia, hoje Epa.

Lá, olhava umas revistas, mas, diligente, esperava o momento certo de falar com aquele então desconhecido, um sujeito meio estranho, "narigudo" e "dentuço".

Ele nada falava e vestia sempre umas camisetas de rock, com coturno ou tênis preto e bermuda. Ainda tinham os braceletes de rebite que sempre usava.

Pra mim, era estranho.

Numa dessas idas à banca, além de pesquisar os gibis do Spider-Man e do Homem de Ferro, toquei no assunto e perguntei se ainda precisava de um guitarrista.

Da banda, eu não sabia nem o nome, sequer o estilo que tocavam. Sabia apenas que era uma banda de rock.

Nesse contato, o tal "narigudo" não mostrou-se muito animado, e disse que “ia ver”.

Saí dali sem saber se iria ter minha experiência com banda ou não. Ele não deixou claro se ainda precisava de um guitarrista.

Tudo bem, pensei, deixa pra lá...

Alguns dias depois voltei. O tal cara chamava-se Edmo e a banda, acreditem, era punk.

Ele tinha vivido parte de sua infância no Rio de Janeiro onde teve os primeiros contatos com o Movimento Punk e com o mundo underground da época.

Voltou para Cariacica e trouxe consigo a arte da pichação e montou a banda Guerrilha, com João Batista e Alex, Marcão e Mark. Era nessa banda que eu iria entrar...

Banda punk? Como assim? Pensei...

Mas isso pouco importou, pois queria mesmo era tocar o velho e bom som do rock. Fazer minha guitarra gritar alto, com arpejos e frases acompanhadas de uma base bem pesada... 

O vocalista e compositor Edmo, era bem informado. Em seu tempo livre, e tinha muito, passava lendo jornais, revistas, quadrinhos e tudo mais.

Dizia que a melhor entrevista do jornalismo brasileiro era da revista Playboy, e que a revista Nova, de moda feminina, tinha a melhor equipe editorial.

Quem conheceu a poesia de Edmo reconhece a riqueza de suas letras e das músicas até hoje replicadas por bandas locais. Quem não conhece o bordão “Ninguém tem nada com isso"?.

Edmo era o pichador da sigla FLOYD, que aparecia em muros e paredes da Grande Vitória.

Explica-se: como jornaleiro, ganhava grande parte de seu tempo lendo tirinhas de jornal. Daí, ficou fã de Bill Watterson, das tirinhas de Calvin e Haroldo, e de Floyd Gottfredson, que desenhava o detetive Mickey Mouse nos anos 30 e 40.

Então, pichava Floyd e deu a seu primeiro filho o nome de Calvin, homenageando esses famosos cartunistas. Entenderam? Ainda, por ser tão fã do Calvin, tatuou um Calvim que tomava todas as costas.

Até então minha incursão no submundo do rock and roll limitava-se a tocar riffs de guitarra de bandas como Sabbath, Iron e Metálica no interior do meu quarto, ouvir muito rock nacional e passear pela Expedito Garcia.

Não envolvia nada tão underground... até agora...

Então, chegou a hora de tocar numa banda... E ia ser uma banda punk...




quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Cariacica Underground das Décadas de 80 e 90

A Cariacica Underground das Décadas de 80 e 90

A imagem mostra um ônibus Mercedes-Benz, com carroceria Caio, nos anos 50. Pertencia à Viação Planeta, fundada pelo empresário Floriano Rangel Mendonça. O transporte de passageiros urbano provavelmente surgiu em Vitória com a linha entre Vitória e Cariacica. (Texto e imagem de http://www.museudantu.org.br)


Desde Tchu Tchu no Parque, com 217 acessos até agora, estando entre os dez posts mais acessados do blog, estávamos analisando o mapa conceitual de nossa amada Cariacica underground.



Esse é um mapa que elaboramos há algum tempo, com a ideia de iniciar mais um de nossos projetos de registro de tudo aquilo que fizemos e "deixamos pra lá..." mas não esquecemos.

Nossa intenção é, a partir desse esboço, atualizá-lo com as lembranças de quem tiver mais nomes, datas e fatos importantes ou folclóricos.

O critério utilizado para estar presente nesse mapa é o de ter participado da cena cultural local com alguma expressão autoral ou ter representado "foco" aglutinador de expressões culturais underground autênticas.

Será um trabalho de reconstituição da época e da cena a partir dos relatos de quem viveu como protagonista, incorporando sua alma artística e participando de festivais e encontros culturais, levando à frente o nome de nosso município do rock.

Essas décadas deram bons frutos...

Dilio Sergio Lyra, esperando na janela a bela morena passar... fez parte do grupo Moxuara e grupo Brigida De La Penha. Sua carreira iniciou-se "solo" e continua assim, depois de um rico percurso na cena musical Carijaciquense. (Imagem do acervo do artista)

Ganhamos prêmios nacionais de música (Dilio Sergio Lyra), batemos recorde de exibições em teatro (Hudson Braga), alcançamos a maior venda de álbum musical no Estado (Moxuara) e somos conhecidos como reduto underground, graças a todos nós...

Hudson Braga, no teatro, levou longe o nome Cariacica. (Foto em http://seculodiario.com.br, acessada em 18/06/2015)

Lembro-me que nas décadas de 80 e 90 estávamos distantes das leis de incentivo à cultura. Como fazíamos? Sós ou bem acompanhados... era assim que fazíamos...

Recorríamos aos centros comunitários como o de Rosa da Penha, às comunidades de bairro e suas festas, lutávamos pela criação de um espaço cultural em Campo Grande, o que culminou na criação do Centro Cultural Frei Civitella Di Trento, que passou a acolher muitas de nossas manifestações.

Outras vezes, exigíamos do poder público que cumprisse seu papel como fomentador da cultura local.

Lembro-me que a "cultura", para o poder público da época, era materializada numa sala comum, com uma mesa e cadeiras velhas, dentro de uma das secretarias municipais.

Naquelas salas e ante salas sempre encontrávamos as mesmas "figuras" em busca de alguma promessa de apoio...

Nessas décadas, o lema corrente da juventude clamava por acesso à saúde, cultura e educação.

Hoje nossa perspectiva de direitos ampliou-se. Queremos direito à informação, à tecnologia, ao consumo, e à cidadania digital... e muito rock também...

Agora temos nossa lei de incentivo cultural e uma recente secretaria de cultura.

Parabéns a todos nós por nossa história que gerou frutos e exemplos a serem seguidos, frutos que colhemos ainda nos dias de hoje...

Então, apresento-lhes nossa Cariacica Underground...

Aos navegantes do blog, fiquem à vontade para atualizar nosso mapa conceitual...

Tudo pelo rock!